18.1.10

Incomoda-te assim tanto olhar para mim? Como não to perguntei antes de descer as escadas do metro, pergunto agora.
É que a mim incomoda, sim. E mexe. Ouvir-te ao telefone, adivinhar a tua sombra lá ao fundo no jardim e perceber, depois daquele abraço meio trapalhão, que vinhas um bocado agitado. E eu tinha que escrever isto, não ia conseguir guardar mais. Na minha cabeça nasceram estas frases todas: ou no elevador, ou na cozinha, enquanto tomava banho, durante o sono.
Fiquei tão feliz por te ver, que por mim tínhamos continuado a andar sem café escolhido para nos sentarmos. Andar, andar, andar até ao Fim do Mundo, até Ushuaia. Ouvi de ti, do teu trabalho, das tuas coisas e, quando me disseste que tinhas passado o Natal sozinho por escolha própria, tive muita vontade de sair de onde estava, puxar-te para mim e fazer-te uma festinha na cara. Só tu é que vais poder perceber qual é, afinal, o limite, o teu limite, entre independência e solidão.
Se leres isto, vais continuar a não perceber a história de eu ter saudades tuas. Mas tenho muitas, como te disse. Sou parodoxal (faz parte do meu encanto...), o meu humor varia ao longo do dia, como se mudasse com o sol. Tudo verdade. Mas não sou masoquista e não fico a viver as coisas que podiam ter sido. Se estou triste, estou e pronto, aceito, vivo com isso. Faço o que fiz nessa noite, já bem tarde: páro o carro na marginal, saio e fico um tempão a contar as ondas.
Sabes, umas das cenas que mais me marcou, quando saí de casa, foi olhar para a cama onde não ia dormir mais e ver apenas uma almofada. O curioso é que eu não li nesse gesto racional a mensagem de que já não pertencia ali. Entendi que não havia era espaço para mais ninguém.
Não quero isso para mim. Continuo a ter duas almofadas na cabeceira.

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