12.2.10


     Blonde Redhead | Elephant Woman

Venho aqui e escrevo umas palermices, coisas do menú banal dos meus dias, quando o que me apetece mesmo é gritar a raiva e a pressa que acumulo de dia para dia nos meus pulsos. Esta treta de sermos todos aparentemente felizes, de bem com a vida, quentinhos no conforto da nossa casa, do nosso carro, a caminho do nosso trabalho, na rotina segura e pequenina do que julgamos ter e que nos agarra os pés à terra foi tudo o que sempre abominei. Sempre. Agora dou por mim nesse esquema de trabalho-casa-trabalho-amigos-ter relações é uma coisa exigente hoje em dia-quá-quá-quá-família-uma festa aqui ou ali mais cinema-ou-teatro-em-calhando e a ginástica para pagar as contas no fim do mês. Aos 31 anos, dir-me-ão vocês, já não devia ter estes acessos de Teenage Angst. Pois. Mas acontece que sou inconstante como o tempo e se agora estou contente com a vida e os projectos que não paro de ganhar, a velocidade imprópria na marginal porque a reunião não se adia, jantares semanais às onze da noite em frente à televisão, quatro horas de sono em cima do pêlo e raios me partam se este ritmo não leva a minha produtividade a picos para lá de extraordinários, também me apetece fazer as malas e ir-me plo mundo, volto daqui a um ano, sim?, vou fazer as fotografias que sempre quis fazer, vou escrever, vou encher as caixas de correio de palavras e bilhetinhos, fazer poesia de guerrilha, embrulhar paredes de casas em textos que me mantêm à tona e concretizar. Concretizar todas as ideias absurdas e sonhos não menos que isso que tenho na cabeça.


Talvez no intervalo consiga resolver o coração.

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