Uma das gavetas da cómoda está aberta e vou fechá-la. No canto interior da gaveta vejo o bridão que ele trazia na mão quando chegou. Devem ter-se esquecido, por causa da pressa. Mas talvez não seja isso. Talvez o homem o tenha deixado para trás de propósito.
- Bridão - digo. Ergo-o à altura da janela e observo-o à luz do dia. Não é nada de especial, apenas um velho bridão em cabedal escuro. Não sei grande coisa sobre bridões. Mas sei que uma parte é para enfiar na boca. A essa parte chama-se freio. É feito de aço. As rédeas passam por cima da cabeça e vão até ao pescoço do cavalo, onde são agarradas pelos dedos do cavaleiro. O cavaleiro puxa as rédeas para um lado ou para o outro, e o cavalo vira. É simples. O freio é pesado e frio. Se tivéssemos de usar esta coisa nos dentes, presumo que aprenderíamos num instante. Quando sentíssemos o puxão saberíamos que estava na altura. Saberíamos que estávamos a caminho de algum lado.
Raymond Carver, "O Bridão" in Catedral, Quetzal, 2010.
1 comentário:
Umas pessoas insistem em não o ver. Já outras, não só o vêem como ainda o retiram com as próprias mãos e o queimam como se fosse um soutien em 1968. E para isso, há que os ter no sítio...
Enviar um comentário