24.2.13

(...) há pessoas que nos fazem rir, mesmo que não o queiram, conseguem-no sobretudo porque nos dão satisfação com a sua presença, e isso nos basta para soltar a gargalhada com muito pouco (...) Um com o outro pareciam ser dessas pessoas; e embora os visse casados, nunca neles surpreendi um gesto adocicado nem afectado, nem sequer estudado, como os de alguns casais que têm anos de convívio, e fazem gala em mostrar como permanecem apaixonados (...) Era antes como se quisessem tornar-se simpáticos e agradar um ao outro antes de um possível galanteio; ou como se tanto apreço e afecto tivessem um pelo outro desde antes do seu casamento (...) que em qualquer caso se teriam escolhido espontaneamente -  não por dever conjugal, nem por comodidade, nem por hábito, nem sequer por lealdade -  como companheiro ou acompanhante, amigo, interlocutor ou cúmplice, na certeza de que, acontecesse o que acontecesse ou surgisse, ou que houvesse para contar ou escutar, sempre seria menos interessante ou divertido com um terceiro. Sem ela no caso dele, sem ele no caso dela. Havia camaradagem, e sobretudo convicção.

Javier Marías, Os Enamoramentos, Alfaguara, pp.16-17

Sem comentários: