3.2.10

Ask the dust


Não conhecia John Fante, mas o livreiro disse-me que era uma aposta segura. Sou muito curiosa e interesso-me por várias coisas ao mesmo tempo o que, em relação aos livros, traduz-se na confusão generalizada de ter um para ler no comboio, outro à cabeceira, outro na sala para as horas mortas e mais um no trabalho, não vá estar um rico dia para ir almoçar ao jardim. Comprar este significava dizer bye bye a algum que me andasse a aborrecer. Fácil: Richard Zimler, Os Anagramas de Varsóvia (fogo meu, o Cabalista até que foi bem e os contos do Confundir a Cidade com o Mar marcharam que foi uma beleza em escalas de aeroporto, mas este, mesmo na recta final, topa-se à distância que não estavas inspirado, oh Richard, e querias era despachar a historieta, bora lá acabar com os chatos dos judeus, mais a porra dos guetos). In with Fante e não o larguei mais. Foram dois dias completamente absorvida por uma escrita despretensiosa, rápida e segura, from the gut, cheia de nervo. Los Angeles é uma cidade a meio da Grande Depressão que sufoca o italiano e escritor wannabe Arturo Bandini. Sexual e socialmente frustrado, vive num hotel pejado de outros tantos outsiders, alimentando-se quase exclusivamente de laranjas e mantendo uma relação de amor-ódio com uma empregada de mesa mexicana, viciada em marijuana. Dito assim, quase parece uma fotonovela, mas todo o carácter ridículo da personagem principal, a forma credível como algumas situações inesperadas aparecem a meio da narrativa e o tratamento dos estereótipos raciais, valem bem ter seguido o conselho na livraria.
Tenho p'ra mim que mais livros deste senhor vão morar lá em casa. Uma vénia a John Fante, se faz favor.

3 comentários:

hmbf disse...

Isto é que é música. :)

jaa disse...

Faço a vénia com todo o prazer. Também o li recentemente e gostei muito. Mas existiram momentos delicados: a minha costela conservadora fazia com que sentisse frequentemente grande vontade de mandar dois berros ao Bandini, ordenando-lhe que parasse de esbanjar dinheiro.

Bluesy disse...

hmbf
true!

jaa
também tive essa vontade, mas não por causa do dinheiro. Foi mesmo por todas aquelas deambulações dele, enquanto passava plas coisas mais inacreditáveis (por ex, o fulano a afogar-se e a pensar em qual seria o melhor adjectivo a usar, quando fosse escrever sobre aquilo :) Maravilhoso)