Estou a tratar da produção de um espectáculo e na hora h, enquanto carregamos as coisas para o carro, vejo que nos falta uma coisa bastante importante.
Meto a correr pelo corredor fora e empurro a porta do gabinete de um dos meus chefes que, por acaso, está a fazer entrevistas a estagiários. A responsabilidade e o brio profissional são coisas que me metem os nervos em franja e isso torna-me numa tipa absolutamente picuínhas com os detalhes. E stressada. Muito stressada. À medida que lhe vou fazendo perguntas, o gajo responde, mas sempre com um sorrisinho filho da puta e às tantas, para azar dele, muda o tom de voz e começa a tentar imitar-me. É a estratégia mais velha do mundo: humilhar alguém para mostrar às aquisições recentes quem é que manda no burgo. Impávida e serena pergunto-lhe se está com problemas na garganta e ele, claro, só engole em seco.
Saio dali fodida da vida com aquela sacanagem. Nah, a minha mãe não me andou a criar para aturar estas merdas. Sigo para a mercearia, pego num pacote de rebuçados Dr. Bayard e minutos depois estou de novo no cenário do crime.
Vim aqui deixar-te uns rebuçadinhos para a tosse. Há bocado pareceste-me mal. Quantos queres?
(Riso lixado do outro lado)
Se calhar é melhor ficares com o pacote todo, toma.
Epá, tu...tu...tu és....
Pois sou.