Lá vens tu com essas coisas. Para a Nicarágua, sem receber? E um país civilizado, não? E queres ir estudar para o Brasil pra quê? E o teu trabalho aqui, como é que vais fazer?
A minha resposta foi torta e bruta. Dei a conversa acabada por ali. O jantar continuou e eu só pensava em terminar a porra do gelado para me pirar. Foda-se, mas não era suposto esta gente que me conhece há 15 anos e de quem tanto gosto, ser a primeira a incentivar-me Epá és completamente doida mas se é mesmo isso que queres, força, vai, faz.
Tou farta de saber que se por um lado nem sempre os amigos me dizem o que quero ouvir, com o que isso tem de bom e mau, por outro também mais vale guardar determinado tipo de sonhos e falar deles quando estiverem apenas concretizados. Mas foi idiota, completamente idiota, a sensação de estar no balde dos caranguejos com uma das pernas de fora, e ter os outros todos a puxarem-me para baixo. Lembrei-me do J que está em Londres, que deu uma volta do caraças à vida dele e que me escreveu por zeus, vai...Dá-lhe forte e feio. Não vou ser hipócrita e dizer “se eu pudesse também ia”. Não, não ia. Mas eu não sou tu e tu não és igual a ninguém mesmo! Acho que és a gaja com mais tomates que alguma vez conheci pessoalmente. E fico muito contente por ti e quero ver fotos quando voltares e vê lá se não te esqueces de bloggar num papel se não tiveres net (que é o mais provável). Caneco, vou negar que o meu ego ficou contente a ler isto e que me deu alento? Não. Mais do que isso foi perceber que, em determinadas alturas, as palavras certas vêm de onde não se esperava. O J não sabe o quão cagarolas eu sou, da quantidade de merdas que deixei de fazer por causa dos medos disto e daquilo. Mas também não sabe das vezes em que me lembro da decisão que ele tomou, da forma como decidiu fazer as coisas e falar com a família, da felicidade que as suas palavras transparecem, do sorriso dele em Dezembro e de como tudo isso me faz pensar que, de facto, mesmo que ninguém à nossa volta entenda, mais nada interessa quando temos a mira bem apontada. E o meu tiro há-de ser, a seu tempo, certeiro.