A Digal é a empresa que fornece o gás do meu prédio. A Digal tem um presidente do conselho de administração (vénia) que se chama Artur Caracol. A Digal costuma oferecer aos clientes, eu incluída, presentes de alto gabarito pelo Natal. No ano passado tinha um DVD do Local Hero mais o CD da banda sonora encafuados na caixa de correio. E este ano recebi dois-livros-dois da colecção "Biblioteca Digal": O Elogio da Sabedoria, de Karl Schmit e O Cântico de Natal, de Charles Dickens. O presidente do conselho de administração (vénia), Artur Caracol, é um elevado vate da prosa e faz questão de partilhá-lo com os clientes. Posto isto, vai de enviar uma cartita que acompanha as mui generosas ofertas e que diz assim:
Caro Cliente,
Chegamos ao final da primeira década deste novo milénio com um estranho sentimento, misto de assombro perante o domínio crescente da Humanidade sobre o mundo e ao mesmo tempo de surpreendente inquietude ou até temor face aos riscos que nascem do equilíbrio frágil dessas mesmas conquistas.
(...)
Ao contrário das palavras vãs e das ilusórias acções (que se compram e vendem, nas bolsas e nas más consciências) aquelas que realmente valem e contam são simples e estão ao alcande de todos, do mais humilde ao mais poderoso, mais facilmente ao primeiro do que ao último.
As ofertas que trazemos até si este Natal são ambas provas admiráveis de como a simplicidade é a marca da grandeza.
(Ainda estão aí?)
Na compilação "O Elogio da Sabedoria" descobrimos algumas das expressões mais profundas e elevadas que várias civilizações, culturas e religiões nos permitiram alcançar, iluminando-nos nas palavras intemporais e imortais de inúmeras gerações de génios e Mestres.
Na obra-prima de Charles Dickens "O Cântico de Natal", expoente máximo há século e meio da mais bela quadra do ano, a verdade nasce da simplicidade serena com que os três Espíritos do Tempo guiam o banqueiro Srooge, desde as escolhas com que construiu o seu passado e definiu o seu presente até ao legado e consequências que o futuro lhe reserva e aos que o rodeiam, exclusivamente em função das suas próprias acções.
(...)
Reflectimo-nos, mais do que naquilo queremos ou cremos, acima de tudo no que criamos e compartilhamos, em cada momento fugaz e por toda a Eternidade.
Aqui ficam dois testemunhos singelos desta simples verdade e obrigado por nos permitir partilhar consigo alguns desses detalhes únicos e preciosos, no passado, no presente e no futuro.
Feliz Natal yadayadayada.
O presidente do conselho de administração (vénia), Artur Caracol, é amigo. A Digal é amiga. E fofinha.
Mas a cena é: será que eu ando a pagar taxas que não aparecem mencionadas na factura para estes senhores frequentarem cursos de escrita criativa? Ou isso ou drogas, só pode.
3 comentários:
Eu vou é mudar de casa para perto de ti! Na minha caixa do correio só entram facturas, postais de Natal foleiros das empresas da água, gás, electricidade, etc., e sugestões de obras de beneficiência... Prendinhas que é bom, nicles! :)
Beijinhos
Anda! E podes crer que a porta da minha está aberta para ti. Anytime :) beijinho
Eu trabalhei 10 anos para essa criatura iluminada e tão cristã... Se são drogas, são muito fortes!
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