1.7.11

Sangue

O que é que nos faz tão diferentes? Não é o seres morenaço e de olhos castanhos e eu a eterna russa de mau pêlo com pinta de estranja. Ainda ontem em Alfama me convidaram to eat typical Portuguese food. Obrigada, mas vou ali comer umas pataniscas. E pisquei-te o olho.

Em puto, se pudesses, comias musse de chocolate e batatas fritas a toda a hora. Adoravas pendurar-te no tractor com o avô e o único brinquedo que nunca espatifaste, para ver como era por dentro, foi aquela espada de madeira do Zorro
Quando o pai morreu, criou-se um pacto de protecção à tua volta. Como se não pudesses saber do que tinha acontecido - foi isso que nos separou. Porque eu sabia. E não só sabia, como passei a tratar da dor dos outros para que a esquecessem.

Crescemos.

A minha ida para fora nunca a percebeste bem. Não havia um sítio ainda mais longe que Timor? Bolas. Do regresso nem falo, a factura paguei-a cara e fiquei sempre naquela de ser a ingrata, a desbocada, a impulsiva, a única irmã do planeta que vai a Amesterdão e me traz prendas duma sex shop. Tu, o ponderado e sábio mano mais velho, mesmo tendo nascido cinco anos depois de mim.

Há uns tempos tivemos uma discussão monstra, lembras-te? Fiquei de estômago virado por te ter chamado cobarde. És sempre o gajo que não toma partido, que concilia e põe panos quando tudo o resto está a arder - nosso senhor sabe o curto que é o meu pavio. És o gajo que encolhe os ombros e entrega, mesmo que tenha o saco cheio, e essa merda dá cabo de mim, do meu arregaçar de mangas e do partir a loiça toda.

Ontem abraçaste-te a mim Gosto muito de ti, maninha. Caiu-me tudo e a garganta seca só articulou um És o meu orgulho.

Pelo menos temos a mesma altura no BI.

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